segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Deixe-me ir

arqueofuturismo

Deixe-me ir,
Deixe-me ir,
Deixe-me procurar
a resposta que preciso encontrar
Deixe-me encontrar uma maneira,
uma forma derradeira,
da realidade aceitar.

Devo voar,
Devo voar,
Erguer-se contra o céu,
Erguer a voz neste mausoléu,
vestido de vermelho-sangue,
para que não se prolongue,
esta ilusão!
taciturna paixão!

Devo ir atrás dela?
Quebrar minhas asas e cair?
Sobreviverei sem sequela?
De tão alto subir?
Deixe-me ir...
Devo subir...

Deixe-me correr,
Deixe-me sofrer,
Deixe-me morrer...
Cavalgarei o tigre,
Cavalgarei o Sol,
Deixe que migre,
No ouro do crisol,
Deixe toda impureza,
Deixe toda limpeza.

(Teu perfume ainda sinto!)
(Teu sorriso ainda imito!)

Deixe-me queimar,
e assim acordar,
purificado e dourado,
Como Apolo imaculado.

Deixe-me navegando,
em silêncio...
Deixe-me te amando,
em silêncio...

A aurora virá?
O portador da luz
emergirá da cruz?
A aurora triunfará?

Vivo ainda estou!
Intenso é o que sou!
Eu sou, eu!
e isto tudo é meu!

Por que a verdade,
mesmo que na iniquidade,
Sempre me faz morrer?
E sempre renascer?
Quantas vidas me restam?
Quantas me interessam?

Deixe-me quebrar!
Deixe-me sangrar!
Deixe-me rasgar,
em pedaços...
Deixe-me respirar,
em abraços...
Deixe-me vagar,
o meu caminho...
Deixe-me andar,
sozinho...
Deixe-me extraviado!
Deixe-me ludibriado!
na ilusão tardar,
em te amar!

Deixe-me escorrer!
Deixe-me morrer!
Deixe-me quebrar,
as coisas que eu amo!
aos sonhos que conclamo,
eu preciso chorar!
em silêncio ficar!

Deixe-me queimar tudo!
Deixe-me tomar a queda!
tomar o que desperta!
E depois ascender,
Através do fogo da purificação!
Voando na imensidão!
Agora deixe-me morrer!
Deixe-me renascer...

Deixe-me sair
Deixe-me ir...
Deixe-me ir...

naquela noite de breu
que de mim você correu...

Wagner Correia
03/12/2012