Introdução ao Trovadorismo


Este site tem apenas por objetividade rascunhar elementos pessoais deste trovador solitário que vos escreve. Publicar algumas poesias, poemas, versos, trovas e artigos referentes a esta arte de a-mar Ella, a eterna busca pela amada vindoura que nunca vem ao trovador. Inspirar a veia artística e poética dos verdadeiros artistas que sentem com o sangue e não o coração animal. Aliviar o alento do espirito daqueles que sonham, entronizam no fundo de seu EU o encontro rumo a sua verdadeira companheira. Dedico em especial ao povo galaico-português e os cátaros da Occitânia, que descreviam esse amor com maestria e precisão.


Abaixo compilarei de forma simplificada, toda origem do trovadorismo e sua história para que o leitor possa estar habituado ao modo de pensar cavaleiresco e romântico de um autentico trovador.

Origem

O Trovadorismo surgiu como primeiro movimento literário da língua portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII; porém, as suas origens deram-se na Occitânia, oriundos dos antigos cátaros da região do Languedoc na França, de onde se espalhou por praticamente toda a Europa. Apesar disso, a lírica medieval galaico-português possuiu características próprias, uma grande produtividade e um número considerável de autores conservados, influenciado tudo que conhecemos como romancismo trovador, canções, melodias e versos amor.
A mais antiga manifestação literária galaico-portuguesa que se pode datar é a cantiga "Ora faz host'o senhor de Navarra", do trovador português João Soares de Paiva ou João Soares de Pávia, composta provavelmente por volta do ano 1200. Por essa cantiga ser a mais antiga datável (por conter dados históricos precisos), convém datar daí o início do Lírica medieval galego-portuguesa (e não, como se supunha, a partir da "Cantiga de Guarvaia", composta por Paio Soares de Taveirós, cuja data de composição é impossível de apurar com exactidão, mas que, tendo em conta os dados biográficos do seu autor, é certamente bastante posterior). Este texto também é chamado de "Cantiga da Ribeirinha" por ter sido dedicada à Dona Maria Paes Ribeiro, a ribeirinha. De 1200, a Lírica galego-portuguesa se estende até meados do século XIV, sendo usual referir como termo o ano de 1350, data do testamento do Conde D. Pedro, Conde de Barcelos|D. Pedro de Barcelos, filho primogênito bastardo de D. Dinis, ele próprio trovador e provável compilador das cantigas (no testamento, D. Pedro lega um "Livro das Cantigas" a seu sobrinho, D.Afonso XI de Castela).

Trovadores eram aqueles que compunham as poesias e as melodias que as acompanhavam, e cantigas são as poesias cantadas. A designação "trovador" aplicava-se aos autores de origem nobre, sendo que os autores de origem vilã tinham o nome de jogral, termo que designava igualmente o seu estatuto de profissional (em contraste com o trovador). Ainda que seja coerente a afirmação de que quem tocava e cantava as poesias eram os jograis, é muito possível que a maioria dos trovadores interpretasse igualmente as suas próprias composições.

A mentalidade da época baseada no teocentrismo serviu como base para a estrutura da cantiga de amigo, em que o amor espiritual e inatingível é retratado. As cantigas, primeiramente destinadas ao canto, foram depois manuscritas em cadernos de apontamentos, que mais tarde foram postas em coletâneas de canções chamadas Cancioneiros (livros que reuniam grande número de trovas). São conhecidos três Cancioneiros galego-portugueses: o "Cancioneiro da Ajuda", o "Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa" (Colocci-Brancutti) e o "Cancioneiro da Vaticana". Além disso, há um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X de Leão e Castela, O Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Gomes Eanes de Zurara e as novelas de cavalaria, como a demanda do Santo Graal.

Motivos pelos quais o trovadorismo se enraizou na cultura galaico-portuguesa:

• O povo da região galaico-portuguesa sempre demonstrou um profundo sentimentalismo;

• os temas mostram que as donzelas cantavam no campo, na fonte, junto ao mar, nos bailes, no caminho para as romarias... ;

• as tradições das festas primaveris, as danças, as peregrinações ou as romarias estavam enraizadas na alma popular;

• a demora na faina marítima, a ausência dos namorados ao serviço do Rei ou na guerra contra Muçulmanos, provocavam saudades nas donzelas;

• o amor puro ou a paixão arrebatadora, as traições ou os ciúmes, deram origem a uma poesia marcadamente afectiva.

Cantigas de amor

O cavalheiro se dirige à mulher amada como uma figura idealizada, distante. O poeta, na posição de fiel vassalo, se põe a serviço de sua senhora, dama da corte, tornando esse amor um objeto de sonho, distante, impossível. Mas nunca consegue conquistá-la, porque tem medo e também porque ela rejeita sua canção.

Neste tipo de cantiga, originária de Provença, no sul de França, o eu-lírico é masculino e sofredor. Sua amada é chamada de senhor (as palavras terminadas em or como senhor ou pastor, em galego-português não tinham feminino). Canta as qualidades de seu amor, a "minha senhor", a quem ele trata como superior revelando sua condição hierárquica. Ele canta a dor de amar e está sempre acometido da "coita", palavra frequente nas cantigas de amor que significa "sofrimento por amor". É à sua amada que se submete e "presta serviço", por isso espera benefício (referido como o bem nas trovas).
Essa relação amorosa vertical é chamada "vassalagem amorosa", pois reproduz as relações dos vassalos com os seus senhores feudais. Sua estrutura é mais sofisticada.

Com tudo isto, os trovadores influenciaram todos romances e literatura que exaltasse não apenas o amor ideal como os códigos da nobreza, da aristocracia, da busca pela amada, da deusa divina e assim compondo novelas e romances de conteúdo cavaleiresco. Dando origem as compilações da lenda arturiana. 

Os romances ou novelas de cavalaria são de origem medieval, e constituem uma das manifestações literárias de ficção em prosa mais ricas da literatura peninsular. Podemos considerá-las, sobretudo as da matéria da Bretanha (ligadas às aventuras da corte do rei Artur e da Távola Redonda), verdadeiros códigos de conduta medieval e cavaleiresca. Costumam agrupar-se em ciclos, isto é, conjuntos de novelas que giram à volta do mesmo assunto e movimentam as mesmas personagens. De carácter místico e simbólico, relatam aventuras penetradas de espiritualidade cristã e subordinam-se a um ideal místico, que sublima o amor profano.

Na Península Ibérica, surge no século XIV o Amadis de Gaula, atribuído a João de Lobeira, mas cuja autoria é ainda incerta, dado que a primeira versão publicada, mais tardia, é em castelhano. Este romance oferece-nos o paradigma do perfeito cavaleiro, destruidor de monstros e malvados, amador constante e tímido de uma donzela, Oriana, a Sem Par, que se deixa possuir antes do casamento e está na origem do chamado ciclo de Amadis, um dos de maiores sucessos na literatura peninsular. Este novo desenvolvimento da matéria da Bretanha foi o ponto de partida para uma frondosa ramificação do romance de cavalaria no século XVI, melhorada e ao mesmo tempo ridicularizada por Miguel de Cervantes em Dom Quixote.

CARATERÍSTICAS DAS CANTIGAS DE AMOR

• A cantiga é posta na boca de um enamorado (trovador), que exprime os sentimentos amorosos pela dama (destacando a sua coita de amor que o faz "ensandecer" ou morrer);

• o amador implora ou queixa-se à dama, mas também ao próprio Amor;

• a «senhor» surge como suserana a quem o amador «serve», prestando-lhe vassalagem amorosa;

• a dama é urna mulher formosa e ideal, frequentemente comprometida ou até casada, inacessível, quase sobrenatural;

• o ambiente é, raramente, sugerido, mas percebe-se que a cantiga de amor é uma poesia da corte ou de inspiração palaciana;

• a sua arquitetura de mestria, o ideal do amor cortês, certo vocabulário, o convencionalismo na descrição paisagística revelam a origem provençal;

• as canções de mestria são as que melhor caracterizam a estética dos cantares de amor.

O AMOR CORTÊS E AS SUAS REGRAS

• «Festa e jogo, o amor cortês realiza a evasão para fora da ordem estabelecida e a inversão das relações naturais. […] No real da vida, o senhor domina inteiramente a esposa. No jogo amoroso, serve a dama, inclina-se perante os seus caprichos, submete-se às provas que ela decide impor-lhe.» (Georges Duby)

• amor vassalagem: o trovador serve a dama; submete-se à sua vontade e seus caprichos; ela é a suserana que domina o coração do homem que a ama;

• a dama, muitas vezes mulher casada, é cortejada, e definida como o ser mais perfeito;

• para conseguir os favores da dama, o amador tem de passar provações (à semelhança dos ritos de iniciação nos graus de cavalaria), havendo, por isso, graus de aproximação amorosa: fenhedor (que apenas suspira), precador (que suplica), entendedor (que tem correspondência) e drudo ou amante (quando a relação é completa);

• ao exprimir o seu amor, o trovador deve usar de mesura (autodomínio) para não ferir a reputação da dama.

A RELAÇÃO AMOROSA NAS CANTIGAS DE AMOR

• Nas cantigas de amor a beleza e a sensualidade da mulher são sublimadas, mas a relação amorosa não se apresenta como experiência, mas um estado de tensão e contemplação;

• a «senhor» é cheia de formosura, tipo ideal de mulher, com bondade, lealdade e perfeição;  possuidora de honra («prez»), tem sabedoria, grande valor e boas maneiras; é capaz de «falar mui bem» e rir melhor...

• o amor cortês apresenta-se como ideal, como aspiração que não tende à relação sexual, mas surge como estado de espírito que deve ser alimentado...; pode-se definir, de acordo com a teoria platónica, como ideia pura;

• aspiração e estado de tensão por um ideal de mulher ou ideal de amor;

• amor fingimento; enquanto o amor provençal se apresenta mais fingido, de convenção e produto da imaginação e inteligência, nos trovadores portugueses, aparece, supostamente, mais sincero, como súplica apaixonada e triste.

Referencias:

Cantigas Medievais Galego-Portuguesas - FCSH, todas as cantigas medievais dos cancioneiros galego-portugueses (em português).
Cantigas on-line (em inglês).
Filologia.org.br (em português).
Sobre a poesia trovadoresca galego-portuguesa Título não preenchido, favor adicionar (em português).
José D'Assunção Barros: Os trovadores medievais e o amor cortês – reflexões historiográficas - "Alethéia", UFG, Ano 1, vol.01, n°1, abril/maio de 2008 (em português).

18 de Dezembro de 2011
Wagner Correia

2 comentários:

  1. É interessante como um trovador precisa ter uma amor perfeito, porém, inalcançável para escrever suas trovas... E se o trovador encontrar um amor possível, ele não será mais um trovador?

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  2. Seria sim, a inspiração reside no platonismo e a idealização da fantasia romantica D'ella. A bem da verdade que tal inspiração é por uma Deusa, que esta além da vida e nao pode ser refletida apenas em uma mulher de carne. Como Platão dizia, se virar real deixa de ser ideal.

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