sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Vôo do Dragão II

setimo-selo04
                      
                         I

1    Atravesso o marfim!
1    O que deparo?
2    Somente o fim!
1    Está claro?
2    Talvez sim!
1    Que enfaro!
1    Porque comigo?
2    Tu és teu inimigo!
        *
1    Não sou meu inimigo!
2    Mas não sois vosso amigo!
1    E quem se importa?
2    A velha morta!
1    Que velha? È uma charada?
2    Não, apenas a velha amada!
1    Ora, que velha? Que amada?
2    Meu caro, tua esperança sem morada!
        *
1    Por que se importa com mortais?
2    Por mares do vosso coração aportais!
2    Mesmo que do velho porto enfadonho,
2    Por bruma, avistas campo risonho;
1    Um interlúdio enganador,
1    Que só me causa dor!
2    E tu mataste,
2    Que de longe amaste!
        *
1    Não me importo!
1    A esperança logo corto!
2    Compreendo teu açoite,
2    Mas de breve vem à noite
2    Que cai sobre teu coração,
2    E toma tua alma, (a escuridão)!
2    O Sol Negro, um eclipse sombrio
!
1    Sim, é quando perco o brio!
        *
1    Quando rio afluente, (a solidão),
1    Arrebata e deságua, (a depressão),
2    Na mácula em teu peito!
2    Uma fábula em teu leito!
1    Uma mácula não criada por mim,
1    Nem fábula imaginada de belo fim!
2    Confesse! Este deleite que faz,
2    Onde nisto tu és sagaz!
                *
1    Não faço deleite nem lamúria!
2    Mas tu adorais esta penúria!
1    Ora se agradas assim,
1    Por que então atravesso o marfim?
2    Porque lhe foi dito a fazer!
2    Tudo que tu fazes é preciso dizer!
1    Claro! Preciso de referências,
1    Para não cair-me em inconsistências!
       

                                  II

2    Achavas o tempo só o que vos faltastes?
1    Achava, até deparar o outro lado!
2    Não era o que vós esperastes?
1    Ledo engano o meu achar malogrado!
2    Frustrado, (sob nuvens escuras), tu, voavas!
1    Não mais! O Dragão fora sepultado!
2    Morrestes na passagem da muralha,
2    E perdestes a mensagem desta batalha!
            *
1    Mas que batalha? Que mensagem?
1    Não vejo nada apenas o fim!
1    Cansei-me de tal imagem,
1    Não queria que acabasse assim!
2    Tua esperança não quer assim,
2    Por isso em ti ela quer viver,
1    Ela alimenta-se do meu sofrer!
1    É cruel e não sai de mim;
            *
2    Não basta que fracassastes com o Dragão?
2    Ainda queres alimentar a destruição?
1    A esperança sempre engana com a ilusão,
1    De ter-me paz um dia no coração;
2    Não! Em ti nunca enganaste,
2    E a mensagem que ignoraste
2    Dizia para morreres tu, lutando,
2    Do que para deixares tu, sonhando.
            *
2    Sois a vós quem engana,
2    És tua dor leviana
2    Que causas a ti o não pensar;
2    Não deixes a dor te lançar
2    Para deserto vazio
2    Onde o nada és sombrio;
1    A dor é muito forte
1    Impulsiona-me a morte,
            *
1    Como resistir poderei?
1    Da dor maior que terei
1    Ao reviver a esperança,
1    Contudo, sem temperança?
2    Deveis aprender a virtude,
2    Para que em ti, dor mude
2    Em força que não ilude
2    E que dentro de ti ajude.

                  *
1    Afinal, quem você é?
2    Imagines que sou tua fé!
1    Não pode ser!
2    Teu orgulho não deixas ver!
1    Acabou! Deixe-me partir!
2    Apenas começou, há muito por vir!
1    Deixe bela morte me buscar!
2    Não vos deixeis, ela, a ti ofuscar;

Wagner Correia
12 de Fevereiro de 2002