I
1 Atravesso o marfim!
1 O que deparo?
2 Somente o fim!
1 Está claro?
2 Talvez sim!
1 Que enfaro!
1 Porque comigo?
2 Tu és teu inimigo!
*
1 Não sou meu inimigo!
2 Mas não sois vosso amigo!
1 E quem se importa?
2 A velha morta!
1 Que velha? È uma charada?
2 Não, apenas a velha amada!
1 Ora, que velha? Que amada?
2 Meu caro, tua esperança sem morada!
*
1 Por que se importa com mortais?
2 Por mares do vosso coração aportais!
2 Mesmo que do velho porto enfadonho,
2 Por bruma, avistas campo risonho;
1 Um interlúdio enganador,
1 Que só me causa dor!
2 E tu mataste,
2 Que de longe amaste!
*
1 Não me importo!
1 A esperança logo corto!
2 Compreendo teu açoite,
2 Mas de breve vem à noite
2 Que cai sobre teu coração,
2 E toma tua alma, (a escuridão)!
2 O Sol Negro, um eclipse sombrio!
1 Sim, é quando perco o brio!
*
1 Quando rio afluente, (a solidão),
1 Arrebata e deságua, (a depressão),
2 Na mácula em teu peito!
2 Uma fábula em teu leito!
1 Uma mácula não criada por mim,
1 Nem fábula imaginada de belo fim!
2 Confesse! Este deleite que faz,
2 Onde nisto tu és sagaz!
*
1 Não faço deleite nem lamúria!
2 Mas tu adorais esta penúria!
1 Ora se agradas assim,
1 Por que então atravesso o marfim?
2 Porque lhe foi dito a fazer!
2 Tudo que tu fazes é preciso dizer!
1 Claro! Preciso de referências,
1 Para não cair-me em inconsistências!
II
2 Achavas o tempo só o que vos faltastes?
1 Achava, até deparar o outro lado!
2 Não era o que vós esperastes?
1 Ledo engano o meu achar malogrado!
2 Frustrado, (sob nuvens escuras), tu, voavas!
1 Não mais! O Dragão fora sepultado!
2 Morrestes na passagem da muralha,
2 E perdestes a mensagem desta batalha!
*
1 Mas que batalha? Que mensagem?
1 Não vejo nada apenas o fim!
1 Cansei-me de tal imagem,
1 Não queria que acabasse assim!
2 Tua esperança não quer assim,
2 Por isso em ti ela quer viver,
1 Ela alimenta-se do meu sofrer!
1 É cruel e não sai de mim;
*
2 Não basta que fracassastes com o Dragão?
2 Ainda queres alimentar a destruição?
1 A esperança sempre engana com a ilusão,
1 De ter-me paz um dia no coração;
2 Não! Em ti nunca enganaste,
2 E a mensagem que ignoraste
2 Dizia para morreres tu, lutando,
2 Do que para deixares tu, sonhando.
*
2 Sois a vós quem engana,
2 És tua dor leviana
2 Que causas a ti o não pensar;
2 Não deixes a dor te lançar
2 Para deserto vazio
2 Onde o nada és sombrio;
1 A dor é muito forte
1 Impulsiona-me a morte,
*
1 Como resistir poderei?
1 Da dor maior que terei
1 Ao reviver a esperança,
1 Contudo, sem temperança?
2 Deveis aprender a virtude,
2 Para que em ti, dor mude
2 Em força que não ilude
2 E que dentro de ti ajude.
*
1 Afinal, quem você é?
2 Imagines que sou tua fé!
1 Não pode ser!
2 Teu orgulho não deixas ver!
1 Acabou! Deixe-me partir!
2 Apenas começou, há muito por vir!
1 Deixe bela morte me buscar!
2 Não vos deixeis, ela, a ti ofuscar;
Wagner Correia
12 de Fevereiro de 2002
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